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Artigo: Destino da estrada dos tijolos amarelos segundo Wagner Balera

Foto: divulgação

Finalizando sua carreira pública, o astro da música Elton John escolheu uma melodia de despedida que parece uma pista reflexiva adequada para nosso momento atual. Na estrada de tijolos amarelos, os cães da sociedade uivam…
Os uivantes não são certamente os pobres, que serão abordados em outra parte da rota. Os reclamantes são aqueles sempre ouvidos pelos meios de notícia.
Um evento desastroso surge devido ao clima, e quem tem a palavra não é o especialista em clima, mas sim quem percebe apenas as consequências econômicas do desastre ambiental.
Efeitos da construção civil em excesso em um tempo resultaram em muitos imóveis desocupados em outra parte do planeta. Imóveis que demandaram mão-de-obra, ou seja, geraram empregos.
Porém, à margem da estrada de tijolos amarelos, as cassandras alertam: não é mais possível investir em moradias populares aqui, logo ali. A margem é mínima.
E quando as ruas estão cheias de cães vadios fuçando por petiscos, assim como você no solo, nossas vozes reclamam da desordem deixada por eles nas ruas e atacam com ódio um outro Cristo que sai para lhes oferecer sopa e pão. Uma proposta para resolver o problema dos sem-teto é algo extremamente complexo. É melhor deixar para depois. Ataque o usuário de drogas e confisque sua propriedade sem qualquer consideração pelo devido processo legal que, infelizmente, só é válida para os cães que uivam.
O problema complexo pode ser resolvido se há apoio àqueles que afirmam: “Estou voltando para a minha charrua.”
Não e não! Impossível. Esses cães, benditos proprietários, recusariam o retorno de sequer cinco por cento da população, ao invés disso, se recusam a devolver as terras ancestrais tanto dos povos nativos como dos quilombolas. E alguns até ridicularizam que, se você voltar ao passado, tornar-se-á uma estátua de sal, como foi avisada a esposa de Lot, que não acreditou na ameaça e hoje se multiplica em uma legião de estátuas de sal com nomes waiãpi, apurinã, tukano, guajajara, mura e yanomami.
Eu finalmente decidi quais serão minhas futuras mentiras. Vamos falar sobre mentiras passadas, presentes e futuras. A maior mentira do passado é que o amarelo da bandeira representa o nosso ouro.
Essa é uma mentira de duas frentes. O amarelo entra na bandeira como representação da casa imperial dos Habsburgos, que a primeira imperatriz do Brasil, Leopoldina pertencia. E o ouro encontrado aqui em grande quantidade, possivelmente nunca saiu das terras onde os Habsburgos reinaram por quase 300 anos. Certamente, a Casa Imperial do colonizador se beneficiou do ouro brasileiro. Portanto, durante o Império, o ouro era dos Bragança, o verde da bandeira. Eles levaram o equivalente a dez anos da produção anual atual do metal.
Conforme a mentira atual, o ouro não é nosso, mas sim daqueles que o extraem ilegalmente, e ainda há a autorização para eles se autodeclararem permitidos da lavra garimpeira que não permite a verificação da origem e o controle ambiental da atividade.
Este, sem dúvida, é o mais amarelo dos crimes financeiros cometidos pelos cães e que se infiltra nas terras indígenas através do pagamento usual: os lanches, tanto maiores quanto mais poderosos os que deveriam proteger o solo.
A estrada de tijolos amarelos leva à morte dos povos nativos e quilombolas, e em último caso, à morte do Estado, que não consegue parar com essa gritaria de corujas que uivam na floresta.
Mas você sabe o que o Estado deve fazer, se não quiser morrer? Vai derrubar seu avião. E destruirá suas pista de pouso clandestinas onde circula o ouro que você legalizou. Não seria demais processá-lo e fazer você cumprir a pena adequada por nos obrigar a dizer adeus à estrada de tijolos amarelos.
Esperemos que futuras mentiras cessem, através de controles eficientes na produção do tijolo amarelo, cuja extração não destrua o meio ambiente, como acontece em Canaã dos Carajás, de nome e memória tão simbólicos.
Finalmente, uma homenagem ao notável cantor e compositor e a reflexão que ele nos ajudou a ter sobre o assunto.
Wagner Balera é coordenador do Núcleo de Estudos da Doutrina Social da Faculdade de Direito. Ele é Professor Titular de Direitos Humanos e Coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Fonte: https://horacampinas.com.br/artigo-para-onde-nos-leva-a-estrada-dos-tijolos-amarelos-por-wagner-balera/

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