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Edgar Morin e a complexidade do pensamento – Parte 1

Foto: divulgação

Identificar precisamente quando Morin começou a moldar o que hoje conhecemos como “pensamento complexo” é uma tarefa árdua, se levarmos em conta sua extensa bibliografia iniciada com o lançamento de “L’An Zero de Allemagne” em 1946. Fica claro que o desenvolvimento dessa teoria foi um processo gradual que se estendeu ao longo dos anos.

Em seu livro mais recente, “Meus filósofos”, Morin relata como, influenciado pelo clima de renovação do maio de 1968, aprofundou-se nas teorias de sistemas, cibernética e teoria da informação durante um ano de estudo no Instituto Salk, nos Estados Unidos. Já discuti anteriormente sobre as duas primeiras teorias; a teoria da informação, desenvolvida originalmente por Claude Shannon em 1948, serve como alicerce essencial para os métodos de comunicação modernos.

O fascínio de Morin não se limitou a estas teorias. Ele também foi profundamente influenciado pelas ideias de Heinz von Foerster e Henri Atlan sobre “organização a partir do ruído” e “acaso organizador”, e por Leon Brillouin e suas discussões sobre neguentropia, que representa um papel importante na teoria de Morin ao explicar a emergência da ordem.

Este aspecto merece atenção especial: enquanto a teoria da informação busca minimizar ruído e redundância para uma comunicação eficaz, Morin destaca que o surgimento de novidades, a invenção, emerge justamente do inesperado, do ruído, justificando a necessidade de redundância para prevenir a propagação indesejável de alterações.

Revisitando o início do texto, a presença de Morin na Alemanha em 1946 pode suscitar curiosidade. Edgar Morin, nome de guerra de Edgar Nahoum, mergulhou na resistência francesa contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, resultando em sua presença na Alemanha pós-guerra onde ele começa a formular suas observações sociológicas.

Retornando ao final dos anos 1960, após explorar teorias de sistemas, de informação e cibernética nos EUA, Morin dedica-se a elaborar suas próprias ideias. Sua obra “Paradigma Perdido”, publicada em 1973, já sinaliza os princípios que mais tarde consolidaria em escritos subsequentes, culminando na série “O Método”, cujo primeiro volume foi lançado em 1977.

O “pensamento complexo” de Morin envolve a interação de conceitos como sistemas, organização, realimentação e informação, formando uma abordagem integrada que reconhece a complexidade inerente aos fenômenos. É importante notar que, embora Morin tenha contribuído significativamente para este campo, a evolução do pensamento sobre complexidade não se limita a suas obras.

Explorando brevemente os primeiros três volumes de “O Método”, Morin debate sobre ordem, desordem, organização e sua interdependência vital para a existência; a integração entre organização, sistema e interação; além de penetrar nas complexidades da vida e coexistência através de neologismos que destacam a interação entre organismos e ambiente, genética e autogestão.

No terceiro volume, Morin questiona as bases da ciência e do conhecimento, argumentando que o conhecimento só é possível em um mundo que comporta tanto determinismo quanto aleatoriedade, enfatizando a necessária contemplação do observador no processo científico.

Ao aguardarmos o próximo artigo sobre os volumes 4 a 6 de “O Método”, fica claro o desafio e a importância de abordar a complexidade com a profundidade que Morin propõe, evitando simplificações e estimulando um olhar mais abrangente sobre as interações que moldam nosso mundo.

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(As opiniões expressas pelos articulistas do Jornal da USP são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do veículo nem posições institucionais da Universidade de São Paulo. Acesse aqui nossos parâmetros editoriais para artigos de opinião.)

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