História de superação: Menino de 2 anos e homem de 35 se encontram após duas décadas no Instituto do Coração
Em uma emocionante manhã de quinta-feira (7), um encontro inusitado aconteceu no Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Davi D’Artibale, um menino de apenas 2 anos e meio, e Francisco Rafael de Araújo Silva, um homem de 35 anos, se conheceram após um intervalo de 30 anos, vivenciando momentos semelhantes em suas vidas.
Davi, que tem o quarto do sexto andar do InCor lotado de brinquedos, não se desgruda do seu kit de alfabeto e bichinhos estampados. Já para Rafael, três décadas atrás, a atração no hospital era a janela do andar inferior, de onde ele observava o movimento da capital paulista e os prédios enquanto aguardava por um coração. Na época, ele tinha apenas 3 anos.
Com o pequeno Davi no colo, Rafael olha pela janela e se recorda com saudade da espera pela chegada do helicóptero nas tardes e das noites tranquilas de um hospital adormecido, quando ele sonhava em andar com sua motinha. Rafael foi a quarta criança a passar por um transplante cardíaco no InCor, em setembro de 1993, e agora, décadas depois, voltou à ala pediátrica para conhecer as crianças que hoje estão na mesma situação que ele enfrentou.
Desde então, Rafael tem uma vida de sucesso e saúde, fazendo acompanhamento regular em um hospital no Ceará e vindo a São Paulo duas vezes por ano para ser monitorado pela médica Estela Azeka, coordenadora-clínica do Núcleo de Transplante de Coração do InCor. Agora, ele torce para que o coração de Davi chegue em breve e traga a mesma felicidade e vitalidade que ele encontrou após o transplante.
Diferente dos avanços atuais, em 1993 não existia uma central de captação de órgãos e as tecnologias ainda não eram tão avançadas. Por isso, as equipes encarregadas do transporte precisavam levar o corpo completo ao hospital para a captação, liberando-o posteriormente para a família realizar o velório. A médica Estela Azeka relembra com gratidão esse momento e se emociona ao ver o sucesso e a alegria de Rafael após 30 anos.
A despedida entre os dois pacientes foi simbólica: Davi pegou uma pecinha de seus brinquedos, com o desenho de um coração, e a colocou no peito de Rafael. Um gesto cheio de esperança e simbolismo, mostrando que o coração é um elo poderoso entre aqueles que já passaram por essa jornada desafiadora.
Davi, o pequeno guerreiro, é um dos cinco filhos da missionária Tatiana Cristina D’Artibale e está aguardando um coração há quase 10 meses. A família deixou Boa Vista, em Roraima, e se mudou para Atibaia, no interior de São Paulo, para que Davi pudesse receber o tratamento adequado na capital. Os pais se revezam semanalmente para acompanhar o filho no quarto do InCor.
Apesar da rotina desafiadora, a família sempre encontra forças para cuidar de Davi e dos outros quatro filhos, que também precisam de atenção. As saudades são amenizadas com visitas mensais dos irmãos para brincar e conversar com Davi. A cardiopatia congênita de Davi foi descoberta no final da gestação e ele já passou por duas cirurgias, a primeira com apenas três dias de vida.
A família acredita que Davi é um grande milagre e encontra consolo na possibilidade de que o coração de outra criança possa se tornar uma bênção em sua vida. O pensamento de que um coraçãozinho de um filho ou neto possa ser a salvação de Davi traz fé e esperança para toda a família.
Essa história de superação e encontro é uma prova de que a medicina avançou muito nos últimos 30 anos, oferecendo esperança e oportunidades para crianças como Davi. Que essa narrativa possa inspirar outras famílias e mostrar que, mesmo diante dos maiores desafios, a vida sempre encontra uma maneira de surpreender e encantar.