Polícia Civil investiga PMs responsáveis pela morte de um torcedor durante confronto fora do Estádio do Morumbi
A Polícia Civil está investigando três cabos da Polícia Militar (PM) para determinar qual deles disparou a “bean bag” que resultou na morte de um torcedor são-paulino durante um confronto no dia 24 de setembro, nas imediações do Estádio do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo.
O incidente ocorreu enquanto a torcida do São Paulo Futebol Clube (SPFC) celebrava a vitória na Copa do Brasil sobre o Flamengo. A PM alega que precisou intervir para conter atos de vandalismo por parte de alguns torcedores, utilizando munições menos letais, como “bean bags”, balas de borracha, bombas de gás e jatos de água. Os torcedores revidaram, arremessando garrafas, paus e pedras contra os policiais.
Rafael dos Santos Tercilio Garcia, torcedor são-paulino, veio a óbito após ser atingido na cabeça por uma “bean bag”. A munição foi disparada por uma escopeta calibre 12 da Polícia Militar. Vídeos de câmeras de segurança e testemunhas mostram policiais atirando em direção aos torcedores, porém, não foi registrado o momento em que a vítima foi atingida e morta pelo artefato.
O Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está analisando as imagens e colhendo depoimentos de policiais e torcedores para identificar o autor do disparo que resultou na morte de Rafael. Até o momento, essa identificação não foi feita.
Inicialmente, a PM informou que 11 policiais poderiam ter usado munições menos letais durante a ação para conter os torcedores violentos. Porém, durante as investigações, o DHPP recebeu informações de que pelo menos três cabos seriam os responsáveis pelos disparos com “bean bags” na área onde Rafael foi ferido e morto.
Um dos três PMs investigados foi apontado por outro policial como o único que estava com a escopeta que dispara esse tipo de munição no local onde o torcedor foi atingido na cabeça. A arma de outro PM teria falhado no momento do disparo. Não há informações se o terceiro PM utilizou a munição antimotim.
Apenas um dos três policiais militares investigados prestou depoimento até o momento, segundo fontes ligadas ao caso. O segundo PM será ouvido na próxima semana. Caso seja identificado o agente responsável pelo disparo que atingiu Rafael, ele poderá ser indiciado por homicídio.
O advogado João Carlos Campanini, que defende um dos cabos investigados, afirmou que só irá comentar o assunto após a conclusão do caso. Por enquanto, os nomes dos PMs investigados não serão divulgados pela imprensa.
A perícia da Polícia Técnico-Científica mostrou parte da trajetória do tiro que atingiu o torcedor (veja imagem abaixo). Segundo os peritos, a morte foi causada por traumatismo craniano decorrente de disparo de arma de fogo. Uma “bean bag” foi encontrada presa à nuca de Rafael. O artefato até furou o boné que ele estava usando e penetrou na pele. Rafael tinha 32 anos e era deficiente auditivo.
De acordo com os protocolos da PM, as “bean bags” devem ser disparadas em uma distância mínima de 6 metros do alvo para garantir a segurança. Investigadores estão averiguando se o disparo que atingiu Rafael foi feito a uma distância menor do que essa.
Peritos encontraram mais três munições de “bean bags” próximas ao estádio. Essas munições, assim como as balas de borracha, são consideradas menos letais.
Apesar disso, há registros de casos de mortes pelo mundo causadas por “bean bags”. Em 2019, um manifestante na Colômbia faleceu após ser atingido por esse tipo de munição. Em setembro deste ano, uma mulher foi morta após ser ferida pelo mesmo artefato. Desde 2021, quando a Polícia Militar de São Paulo começou a utilizar essas munições, essa é a primeira morte registrada com seu uso no estado e possivelmente no Brasil.